quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bolsonaro: o mais puro reflexo da sociedade brasileira, por Riverman

Após participar do programa CQC, da TV Bandeirantes, em 28 de março de 2011, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) se tornou alvo de severas críticas da população brasileira, incrédula com os depoimentos estapafúrdios do político, que afirmou na referida entrevista ser uma promiscuidade o envolvimento de uma pessoa branca com uma negra, além de dizer que a homossexualidade é fruto do ambiente no qual a pessoa vive.

Bem, vamos à autópsia dos fatos: de onde vem essa revolta do povo brasileiro, se Bolsonaro já está no seu quinto mandato e há mais de 20 anos na carreira política? Como o povo brasileiro demonstra uma atitude de repúdio às declarações sustentadas em rede nacional se o histórico de polêmicas envolvendo preconceitos e teses de retorno à tortura no Brasil são anteriores a 2010, ano em que o parlamentar conseguiu mais quatro anos no Congresso? Ou seja, depois de mais de duas décadas na Câmara Federal sendo reeleito por quatro oportunidades, fica implícito que o que diz boa parte da população tupiniquim não condiz com o que acontece nas urnas.

A manutenção de Bolsonaro, claramente um conservador, na principal casa legislativa do país é a prova cabal de que ninguém, ou poucos, tem coragem de ser coerente com suas crenças mais íntimas. Blindado pelo decoro, ou por possuir essa coragem que quase ninguém possui, o ex-militar expõe pública e taxativamente suas idéias sem medo de ser feliz.

Não vou aqui condená-lo. Afinal, ele tem todo o direito de dizer o que pensa sem sofrer represálias por isso. Sou inclusive contrário à ação de alguns colegas seus que tentaram alterar algumas regras do Conselho de Ética da Câmara para que a cassação de parlamentares se tornasse mais fácil perante alguns casos.

E também digo, assim como Bolsonaro, apesar de acreditar em coisas bastante contrárias, sem medo de ser feliz: concordo com o parlamentar, sim, quando ele é contra a instalação de cotas nas universidades públicas federais. E através de um argumento simples: fica introjetado que o próprio negro se sente inferior ao branco intelectualmente; além do mais, esse papinho de que os afro-brasileiros têm menos condições financeiras, e por isso devem ter privilégios nos meios de seleção, é balela, em um país onde milhares de brancos, e em muitos casos brancos como diz a velha expressão "com o pé na cozinha", também sofrem com o pouco dinheiro no final do mês.

Claro que não me recusaria a ser operado por um cirurgião cotista; afinal, apesar de ter sido aprovado em condições que eu não concordo, ele teve de estudar, e muito, para conseguir seu diploma de médico. Enfim, resumindo: goste ou não goste, o brasileiro é sim hipócrita. E dos bons.