sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"Fato social - e comercial", por Riverman

Para Émile Durkheim, sociólogo francês, o fato social é a base do estudo sociológico. Para quem desconhece os escritos durkheimianos, o autor da obra Regras do método sociológico, de 1895, explica através desse livro a existência de uma unidade alheia ao próprio cidadão, e anterior, inclusive, ao seu nascimento, que não são nada mais nada menos que, como diz o título de seu trabalho, regras. Para ser aceito em tal círculo social, o indivíduo tem que agir sob determinadas leis previamente convencionadas, caso contrário passa a ser mal visto pelos pertencentes a tal convívio.

Observamos ao analisar a sociedade atual que o objeto de estudo do intelectual francês permanece de pé. Porém, com uma diferença: assim como explica outro sociólogo, desta vez o polonês Zygmunt Bauman, vivemos em uma sociedade baseada na liquidez das relações. Inclusive, me aprofundei no estudo do último em um recente artigo aqui neste mesmo blog. Basicamente, Bauman, ao propor uma sociedade baseada num dinamismo maior no trato interpessoal, onde não há uma identificação mais alicerçada, principalmente na questão midiática, com o ser humano consumindo e comprando aquilo que o marketing propõe e pelo tempo que ela propuser, abarca justamente a questão da alienação do indivíduo contemporâneo.

Ao lincar ambos os estudos, chego à seguinte conclusão: enquanto, em fins do século XIX, Durkheim levava em consideração fatores vernáculos na formação desse fato social, como a língua, o país e a economia, que seriam unidades fundamentais na aceitação ou não de um indíviduo num círculo, Bauman, atualmente, propõe como cerne dessa questão uma fundamentação comercial, baseada no que é anunciado pelos meios de comunicação, com o cidadão se aliando, mesmo que temporariamente, a outros que concomitantemente consomem as mesmas coisas que o mercado mantém como "menina dos olhos".

Não que esses ideias de unificação nacional não existam na atualidade: a Copa do Mundo é uma prova disso, quando pessoas que mal acompanham futebol em dias normais se unem na frente de televisões e acompanham freneticamente suas respectivas seleções. Mas, ao compararmos a funcionabilidade de um em comparação a outro, o patriotismo claramente perdeu espaço. E não estou sustentando que o nacionalismo seja algo positivo; os governos fascista, nazista e outros com fundo totalitário nasceram a partir da germinação dessas ideias de Estado protetor do indivíduo.

Creio que se tivesse escrevido sua obra nos dias atuais, Durkheim teria provavelmente alertado ao problema nas suas páginas subsequentes. O que discuto, aqui, na realidade, é que mesmo sendo algo que tem poucos benefícios, ou nenhum, melhor dizendo, a questão vernacular ainda tem uma construção crítica, quando ela não é artificialmente criada, baseada em mitos heróicos na formação de tal sociedade. Ou seja, descreve aquilo que para muitos é a definição de patriotismo: aquilo que dá auto-determinação a determinada sociedade.

Agora a questão comercial é até inútil comentar mais sobre; quem lê meus artigos, já deve estar cansado como abordo o problema das Hóri, Restart e Cine do momento. Além do que, para se formar consumidores, e não cidadãos, é necessário um relaxamento intelectual, que forma uma extensa sociedade de pessoas acríticas e emburrecidas.

Ou seja, observe bem para onde estão te levando. Espero ter deixado bem claro que não defendo o patriotismo, apenas o utlizei como exemplo para definir a consciência crítica que necessariamente os cidadãos pertencentes a esse sistema, e claro, aqueles que são seus correligionários, devem possuir ao dissertar a cerca do por quê da existência do Estado. E o que temos vivido é algo bem longe de crítico...

Um comentário:

  1. Muito bom! Já conhecia Durkheim e sua visão antiga que acaba sendo super atual. O que aconteceu de lá para cá, acredito, foi a mudança de valores. A globalização fez o caráter regional perder força e ao meu ver perdemos muito com isso, mas também há muitas coisas positivas.

    Acredito que o culpado por essa "atrofia" intelectual tenha um culpado, que está baseado no sistema de economia. Um cara chamado "Victor Lebow" é, para mim, um dos gatilhos do que vivemos hoje em estrutura social.

    É minha primeira vez no blog e parei no post ao ver o nome de Durkheim, achei bem legal, virei mais vezes! Parabéns

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