quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

"Tem importância sim", por Riverman

Para muitos, Noam Chomsky, o gênio da lingüística que revolucionou sua área ao estudara gramática generativa transformacional, tem apenas um quê de conspirador quando passou a publicar obras relacionadas à política: escritos infanto-juvenis, que, segundo seus críticos, são editados apenas para atender um segmento mais interessado em romances do que em obras de caráter científico ou melhor apuradas em seu conteúdo.

Apesar desse rótulo, o escritor norte-americano, para mim, é um dos críticos mais lúcidos dos empreendimentos, principalmente os da área das relações externas, de seu próprio país. Suas obras realmente soam como algo hecatômbico, a partir de seus títulos: O lucro ou as pessoas? e 11 de Setembro são nomenclaturas que realmente fazem o leitor ter uma reflexão inicial de que o livro tem o intuito de ser mais bombástico do que sério.

Porém, em suas páginas, Chomsky mostra que não está para brincadeira: através de apurações principalmente em veículos de imprensa, demonstra a verdadeira face dos EUA, a de um país que faz tudo para se manter no topo em detrimento de quem o desafia. Logicamente que grande parte dessas intenções permanece obscura, mas em seus escritos o lingüista demonstra que no próprio jornalismo de massa, através de declarações que às vezes soam como instrumentos políticos, os líderes do Tio Sam já são capazes de nos abastecer de aperitivos dos seus desejos hegemônicos.

Como um exemplo dessa dialética discursiva basta citarmos o terrorismo: enquanto que os atentados já causados por grupos fundamentalistas islâmicos são tratados sob este rótulo, as ações lideradas pelos norte-americanos, principalmente na América Latina, onde suas intervenções causavam milhares de mortes, são tidas como formas de combate à selvageria e à impunidade e de implantação da democracia. Mas que democracia é essa que, ao invés de levar a paz aos habitantes, injeta uma carnificina em determinada sociedade?

Claro que através de ensaios, Chomsky deixa suas publicações com uma linguagem mais leve, que atraia mais facilmente leitores leigos, ao contrário de alguns maçantes textos acadêmicos, que visam a se perpetuar em meios freqüentados por professores, estudantes e intelectuais. Mas dizer que estes escritos são meramente leituras românticas e conspiratórias é absurdo perto do conteúdo das obras chomskianas. Aliás, até os rótulos, como marxismo, freudianismo, são rechaçados pelo autor, que claramente deu e ainda dá a sua contribuição, não só ao mundo lingüístico, mas também ao político.

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