sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"A problemática temporal do materialismo histórico", por Riverman

O famoso, ou, até podemos dizer, famigerado, economista alemão Karl Marx adquiriu seu triunfo no mundo acadêmico, dentre outras coisas também fundamentais, ao propor a abolição da mais-valia, que é, superficialmente explicando, a diferença de lucros que o trabalhador sua para ganhar mas que acaba ficando com seus patrões, e que se abolida nos levaria ao comunismo, à partilha de todas as propriedades. A mais-valia é um dos fatores principais de explicação do materialismo histórico, ou seja, questão que explica o porquê a nossa sociedade desde inícios da Revolução Industrial é movida pelo ter.

A partir dessa proposição que mudou muitos parâmetros de pensamento pós-século XIX, e que culminou na Revolução Russa de 1917, muitos autores identificados com as crenças marxistas passaram a expor acerca da luta de classes em tempos mais remotos aos escritos do autor alemão, produção esta executada no calor das transformações político-social-econômicas. O historiador britânico Perry Anderson, por exemplo, crê na existência de insatisfações classistas na Idade Média, e que isso teria contribuído à queda do feudalismo europeu, proposta muito parecida com a colocada pelo francês Pierre Villar.

A húngara Agnes Heller também segue o mesmo caminho na sua obra O Homem Renascentista: a queda de Atenas teria sido fomentada através das diferenças entre as diversas classes existentes naquela cidade-estado, em comparação à derrocada dos florentinos quase 1200 anos depois. É difícil estabelecermos parâmetros de comparação em sociedades totalmente diferentes, apesar de européias. A Idade Média era baseada no trinômio Igreja-nobreza-trabalhadores, e graças a isso altamente estamentada. A Grécia Clássica, por sua vez, era uma sociedade onde a participação política cabia a todos os homens e, mesmo dos mais pobres aos mais ricos, essa igualdade ao menos na Ágora não faria uma revolução explodir no sentido de se modificar a estrutura social helênica.

Claro que o erro de interpretação não é culpa de Marx; afinal, ele foi um contemporâneo e tentou explicar as mudanças através do que acontecia a sua volta. Seus escritos contribuíram sobremaneira aos ganhos do proletariado ao final do seu século de vida e, automaticamente, se tornaram obsoletos em alguns pontos. Mas querer voltar no tempo e explicar outras sociedades com a ótica marxista é que não é bem-vindo.

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