sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Eu vou virar a Mãe Dinah...", por Riverman

E a minha certeza se confirmou: o estádio do Corinthians, que seria a sede paulista da Copa das Confederações, não ficará pronto até 2013. Com isso, a maior cidade do país perde não só o direito de ter uma sede para o campeonato laboratório do Mundial, mas também corre sérios riscos de não abrigar a própria Copa. Contudo, no final das contas, e infelizmente, o dinheiro público vai dar uma "mãozinha" às obras do futuro Itaquerão.

Aliás, Natal também não terá praça esportiva à competição que reúne os campeões continentais e também estará fora da lista de cidades. A revista Veja desta semana carrega como manchete de capa justamente a lerdeza das reformas, modernizações e construções dos estádios brasileiros ao principal evento futebolístico do mundo, a ser jogado em terras tupiniquins em 2014, cravando que, sob o atual ritmo, eles só ficariam prontos em 2028. Ou seja, as minhas "visões" apocalípticas têm se concretizado não so em relação ao mais novo reduto paulistano do esporte bretão...

Mas, brasileiros, fiquem tranquilos. Como eu já disse, o dinheiro público faz qualquer milagre. Afinal, grana, preferencialmente em abundante quantidade, transforma o homem mais feio do mundo em um Reynaldo Gianecchini, ou qualquer outro do gosto da fregueza. Façam também o seguinte, compatriotas: peguem as previsões de gastos do Mundial feitas em 2007, quando a candidatura nacional venceu a única adversária Colômbia, e joguem no lixo. Lembram do Pan do Rio, não? O mesmo, em proporções ainda mais homéricas, já que a "farra" vai se dar do Oiapoque ao Chuí, é o que vai acontecer às finanças que vão patrocinar o evento futebolístico.

E, meus caros, não se iludam com aqueles clichês do "a estrutura vai ficar", "todas as praças esportivas pertencem ao povo": me aponte na Cidade Maravilhosa alguma unidade utilizada como local de disputa esportiva em 2007 que a população carioca se utiliza livremente de seus recursos? Ou, sendo mais específico, quem foi o responsável pela absurda licitação feita para que o Botafogo arrendasse o estádio Engenhão, que colocou o alvinegro à frente de sua administração por 30 anos? E tudo saiu mais caro que o previsto...

Portanto, corintianos, fiquem sossegados. O campo de vocês vai sair, o que vai colocar um ponto final às famigeradas chacotas que fazem os rivais santistas, palmeirenses e são-paulinos em relação à falta de uma arena própria. Mas o preço vai ser mais salgado do que nós esperávamos...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bolsonaro: o mais puro reflexo da sociedade brasileira, por Riverman

Após participar do programa CQC, da TV Bandeirantes, em 28 de março de 2011, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) se tornou alvo de severas críticas da população brasileira, incrédula com os depoimentos estapafúrdios do político, que afirmou na referida entrevista ser uma promiscuidade o envolvimento de uma pessoa branca com uma negra, além de dizer que a homossexualidade é fruto do ambiente no qual a pessoa vive.

Bem, vamos à autópsia dos fatos: de onde vem essa revolta do povo brasileiro, se Bolsonaro já está no seu quinto mandato e há mais de 20 anos na carreira política? Como o povo brasileiro demonstra uma atitude de repúdio às declarações sustentadas em rede nacional se o histórico de polêmicas envolvendo preconceitos e teses de retorno à tortura no Brasil são anteriores a 2010, ano em que o parlamentar conseguiu mais quatro anos no Congresso? Ou seja, depois de mais de duas décadas na Câmara Federal sendo reeleito por quatro oportunidades, fica implícito que o que diz boa parte da população tupiniquim não condiz com o que acontece nas urnas.

A manutenção de Bolsonaro, claramente um conservador, na principal casa legislativa do país é a prova cabal de que ninguém, ou poucos, tem coragem de ser coerente com suas crenças mais íntimas. Blindado pelo decoro, ou por possuir essa coragem que quase ninguém possui, o ex-militar expõe pública e taxativamente suas idéias sem medo de ser feliz.

Não vou aqui condená-lo. Afinal, ele tem todo o direito de dizer o que pensa sem sofrer represálias por isso. Sou inclusive contrário à ação de alguns colegas seus que tentaram alterar algumas regras do Conselho de Ética da Câmara para que a cassação de parlamentares se tornasse mais fácil perante alguns casos.

E também digo, assim como Bolsonaro, apesar de acreditar em coisas bastante contrárias, sem medo de ser feliz: concordo com o parlamentar, sim, quando ele é contra a instalação de cotas nas universidades públicas federais. E através de um argumento simples: fica introjetado que o próprio negro se sente inferior ao branco intelectualmente; além do mais, esse papinho de que os afro-brasileiros têm menos condições financeiras, e por isso devem ter privilégios nos meios de seleção, é balela, em um país onde milhares de brancos, e em muitos casos brancos como diz a velha expressão "com o pé na cozinha", também sofrem com o pouco dinheiro no final do mês.

Claro que não me recusaria a ser operado por um cirurgião cotista; afinal, apesar de ter sido aprovado em condições que eu não concordo, ele teve de estudar, e muito, para conseguir seu diploma de médico. Enfim, resumindo: goste ou não goste, o brasileiro é sim hipócrita. E dos bons.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Circo eleitoral brasileiro – parte II, por Riverman

O pós-eleições, e da vitória de Tiririca como o deputado federal mais votado do país, continuou servindo de piada a todos nós brasileiros, ao contrário da ilusão de muitos eleitores. Não que Dilma não dará continuidade ao governo medíocre realizado por Lula, uma gestão, reitero dizer, ainda menos pior que os oito anos tucanos, mas no que depender das notícias provenientes do ex-comediante devemos ter material de sobra para o riso.

O agora parlamentar Francisco Everardo Oliveira Silva foi escolhido para integrar a comissão de educação e cultura da câmara. A informação foi confirmada no último dia 25 pelo líder de seu partido, o PR ou Partido da República, na Câmara, Lincoln Portela, que alegou o “fato de [Tiririca] ser um humorista de êxito no Brasil”, além, é claro, de ser “uma pessoa alegre e um ótimo interlocutor junto à sociedade”.

Agora coloquemos os fatos na mesa. Desde quando o trabalho humorístico do ex-palhaço e atual deputado é bem-sucedido? Membro do depauperado programa Show do Tom, uma atração quase que degradante, que não apresenta nenhum tipo de humor crítico e muito pelo contrário: o televisivo só tende a apresentar cenas bizarras e personagens “diferentes”, se é que vocês me entendem, para arrancar risadas de um público intelectualmente menos favorecido.

E a questão de Tiririca ser um orador de sucesso no nosso país é justamente fruto dessa trajetória no mínimo discutível desse cidadão na televisão brasileira. Eleito graças a pessoas que acompanham seu trabalho, logo, como já mencionei acima, indivíduos dos quais arrancar risadas é mais fácil, ou por outras que realizaram erroneamente o voto de protesto, sua campanha grotesta foi favorecida pelo talvez momento de maior revolta dos brasileiros em relação à política.

Ou seja, Vª Exª não tem condições alguma, no meu ponto de vista, de representar bem nossa sociedade no que pauta à educação e à cultura. A não ser que queiramos ouvir nas escolas do país crianças cantando “Florentina Florentina / Florentina de Jesus / Não sei se tu me amas / Pra que tu me seduz?”...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Machismo... masculino só na impressão, por Riverman

As mulheres passaram o final do século XIX e grande parte do século XX lutando pela igualdade entre os sexos. Queimaram sutiãs em praças públicas, organizaram passeatas, tudo isso visando a uma melhora de suas condições, de meras donas de casa, ou trabalhadoras mal remuneradas, para uma vida profissional sem barreiras, sem limites ao alcance do sucesso.

Não discordo disso, e muito pelo contrário: todos devem, sim, só de acordo com suas capacidades, independetemente de etnia, de credo e de ser macho ou fêmea, ter direito a lutar pelos seus sonhos e seus anseios.

Entretanto, brigar parcialmente por direitos é, para mim, uma covardia. Ou seja, na hora de batalhar por aquilo que lhas convinha as mulheres não impuseram barreiras. Mas na hora de assumir os pontos negativos dessas conquistas elas pularam do barco e, em pleno século XXI, em uma sociedade pós-moderna, onde os tabus do racionalismo quase caíram de quatro a uma sociedade sem ideologias e sem uma luz a seguir, elas continuam agindo como agiam antes dos motins femininos dos últimos dois séculos.

Por que a obrigação de flertar e de tomar a iniciativa quando se trata de interesses carnais tem de partir do homem? Por que o homem tem que continuar se humilhando – podem dizer que o termo é pesado, mas em algumas situações é quase perto disso o que acontece – para que um possível relacionamento sexual ocorra algumas horas, ou alguns minutos, depois?

Em uma população predominantemente feminina, números do IBGE apontam 5, 1 milhões de mulheres mais do que o número de pessoas do sexo masculino na população do Brasil, o artigo de luxo num envolvimento heterossexual, por incrível que pareça, é aquele que possui o pênis ou, melhor dizendo, o homem.

Além do mais, e fazendo uso de uma linguagem coloquial ao extremo, temos de estar de acordo com o que diz o blogger Felipe Neto em um dos vídeos do seu famoso canal do Youtube, o Não Faz Sentido: “mulher também se masturba”.

Caros companheiros de cueca, nos demos um pouco mais de valor, seja por questões de contradição no discurso feminino – igualdade em termos -, seja por questões estatísticas – é provado que somos mais raros que as fêmeas humanas em nosso país ou, até mesmo, por questões de prazer – seguindo o raciocínio do já citado Neto, elas também “têm orgasmos”.

Por isso, tiremos essa obrigação de nos sentirmos responsáveis em flertar, imposta por essa sociedade que colocou na cabeça das mulheres que elas devem “se valorizar”, e comecemos a pensar em nós mesmos. Quem sabe o quão não faria bem para nossa auto-estima se começássemos a ser cortejados na rua?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"O estigma global", por Riverman

Depois de seis anos atuando pelo São Paulo Futebol Clube, Richarlyson deixou a equipe conhecida como Tricolor Paulista e fechou contrato com o Atlético de Belo Horizonte. O problema de sua saída foram as feridas do preconceito deixadas num jovem atleta que, apesar das contestações, é um dos ídolos mais recentes da história do Time da Fé, graças às conquistas do tricampeonato brasileiro.

Filho de um atacante dos anos 80, Lela, que também foi campeão nacional, só que em 1985 pelo Coritiba, e irmão do também delanteiro Alecsandro, do Internacional de Porto Alegre, Richarlyson começou a viver seu calvário em 2007 a partir das afirmações do ex-diretor do Palmeiras José Cyrillo Júnior de que o atleta só não acertou contrato com o alviverde pois o clube “nunca teria um atleta gay no seu elenco”.

Anteriormente, o jornal Agora noticiou que o programa dominical Fantástico, da Rede Globo, entrevistaria um atleta de uma grande equipe de futebol do país desejoso em assumir sua homosexualidade, o que teria gerado o rastilho para a afirmação dada pelo cartola palmeirense. Possivelmente orientado por advogados, ou até mesmo pela própria agremiação na qual labutava, Richarlyson, segundo dizem, teria se recusado de última hora a dar declarações à atração jornalística, o que teria deixado a emissora descontente com a sua atitude.

Desde então, já conhecido por bambi desde 2002, após declarações do jogador corinthiano Vampeta, o São Paulo passou a estar cada vez mais estigmatizado neste sentido. Mas a questão principal nem reside nessa discussão, que muitas vezes não passam de meras provocações entre trocedores rivais, e sim na perseguição cada vez mais cerrada ao meio-campista, introjetada sempre na imagem da equipe pela qual atuava. Na novela A Favorita, de 2008, da mesma emissora da atração que anunciou a entrevista de “desabafo”, um dos personagens da novela, Orlandinho, interpretado pelo ator Iran Malfitano, era um homossexual e torcedor tricolor no folhetim, de um modo “pra bom entendedor meia palavra basta”.

O pior de tudo isso foi o circo forçosamente armado para que fosse “provada” sua heterossexualidade: até namorada arrumaram ao rapaz, uma modelo que chegou a fazer ensaios a uma revista masculina. Como se isso fosse tornar o já popularmente conhecido Ricky, seu apelido junto aos outros colegas de profissão, melhor ou pior. Como se ser gay ou não fosse uma questão de “vida ou morte”.

Acredito que mesmo participando de brincadeiras como uma organizada pelo programa Pânico na TV, da RedeTV!, na qual uma mulher ao acertar a soma dos números de seis dados lançados beijaria o jogador, seu sofrimento, ao menos no início, deve ter sido dilacerante, principalmente se ele realmente tiver atração por homens, já que a impressão que fica é a de que aos olhos da sociedade ele é um inválido ao esporte “viril e masculino”, segundo afirmou o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho na sentença do processo do futebolista contra o diretor que havia, no mínimo, sido indelicado nas suas considerações.

Que Richarlyson consiga, apesar das marcas, continuar vencendo no futebol e, apesar de não acreditar nisso, seria ideal que esse exemplo se tornasse o único e último no nosso esporte, pois o talento deveria, hoje e sempre, prevalecer sobre o que faz ou o que deixa de fazer um atleta fora das suas obrigações profissionais, desde que isso, obviamente, não afete de maneira negativa a terceiros. E essa crítica também cabendo à nossa toda-poderosa emissora de televisão, que, por pura irresponsabilidade, poderia até mesmo ter destruído a carreira profissional de um jovem esportista.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"A problemática temporal do materialismo histórico", por Riverman

O famoso, ou, até podemos dizer, famigerado, economista alemão Karl Marx adquiriu seu triunfo no mundo acadêmico, dentre outras coisas também fundamentais, ao propor a abolição da mais-valia, que é, superficialmente explicando, a diferença de lucros que o trabalhador sua para ganhar mas que acaba ficando com seus patrões, e que se abolida nos levaria ao comunismo, à partilha de todas as propriedades. A mais-valia é um dos fatores principais de explicação do materialismo histórico, ou seja, questão que explica o porquê a nossa sociedade desde inícios da Revolução Industrial é movida pelo ter.

A partir dessa proposição que mudou muitos parâmetros de pensamento pós-século XIX, e que culminou na Revolução Russa de 1917, muitos autores identificados com as crenças marxistas passaram a expor acerca da luta de classes em tempos mais remotos aos escritos do autor alemão, produção esta executada no calor das transformações político-social-econômicas. O historiador britânico Perry Anderson, por exemplo, crê na existência de insatisfações classistas na Idade Média, e que isso teria contribuído à queda do feudalismo europeu, proposta muito parecida com a colocada pelo francês Pierre Villar.

A húngara Agnes Heller também segue o mesmo caminho na sua obra O Homem Renascentista: a queda de Atenas teria sido fomentada através das diferenças entre as diversas classes existentes naquela cidade-estado, em comparação à derrocada dos florentinos quase 1200 anos depois. É difícil estabelecermos parâmetros de comparação em sociedades totalmente diferentes, apesar de européias. A Idade Média era baseada no trinômio Igreja-nobreza-trabalhadores, e graças a isso altamente estamentada. A Grécia Clássica, por sua vez, era uma sociedade onde a participação política cabia a todos os homens e, mesmo dos mais pobres aos mais ricos, essa igualdade ao menos na Ágora não faria uma revolução explodir no sentido de se modificar a estrutura social helênica.

Claro que o erro de interpretação não é culpa de Marx; afinal, ele foi um contemporâneo e tentou explicar as mudanças através do que acontecia a sua volta. Seus escritos contribuíram sobremaneira aos ganhos do proletariado ao final do seu século de vida e, automaticamente, se tornaram obsoletos em alguns pontos. Mas querer voltar no tempo e explicar outras sociedades com a ótica marxista é que não é bem-vindo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Por que nosso Deng?, por Riverman

Na coluna de O Estado de São Paulo de Carlos Alberto Sardenberg de 19 de Dezembro, Lula é tido como nosso Mao-Tsé Tung, em referência ao ditador chinês que virou lenda como um grande líder, mesmo ao levar multidões de compatriotas à fome e à miséria, enquanto Fernando Henrique, seu antecessor no cargo Executivo, como Deng Xiaoping, o criador do sistema socialista de mercado, que, mesmo à sombra do primeiro líder vermelho daquele país, deu as bases para que a China se tornasse, hoje em dia, uma potência florescente da economia mundial.

Tudo bem que Lula tem seus deméritos. Não concordo também com sua política abrangente demais no assistencialismo e carente em reformas fiscais, algo que se traduz numa hipócrita intencionalidade de que o presidente fez uma política baseada no apoio às classes média e baixa. Mas dizer que Fernando Henrique Cardoso, através do seu governo privatizador, tornou possível um país que hoje em dia consome mais é uma falácia.

O único ponto positivo de sua administração foi ter conseguido controlar uma política inflacionária quase crônica nos seus 3 primeiros anos - a inicial manutenção artificial de paridade do dólar com o real também gerou reveses à economia nacional, mas era uma medida necessária. De resto, me parece desculpa esfarrapada dizer que ao executar uma política mais aberta ao capital privado não só nacional, mas também estrangeiro, o sociólogo tenha promovido o alicerçamento de uma situação atualmente mais favorável.

Enfim, defender as políticas econômicas peessedebistas parece incoerente num país onde o patrimônio público foi corroído em troca de míseros milhões e bilhões de dólares, e tudo isso em favor do capital estrangeiro. Logicamente que o PT também ficou aquém do que o povo brasileiro esperava, mas nosso ápice consumista, onde todas as classes aumentaram seu poder de consumo, foi alcançado graças a medidas menos ortodoxas do governo lulista, que, como eu já disse, apesar de decepções na área das reduções de impostos, proporcionou mais acessos a produtos antes nunca imaginados a determinadas camadas sociais.

Ou seja, o PT, mesmo que minimamente, recuperou sim o nosso setor econômico, inclusive a moeda, reiterando aí o mérito da social-democracia de ter criado e mantido por alguns anos uma moeda que se coloca longe daqueles ateradores índices inflacionários, que batia na casa dos 4 dólares ao final do governo tucano. Se a intenção de chamar Cardoso de nosso Deng foi por questões desenvolvimentistas, me desculpe, mas, com isso, não devo concordar...